quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Considerações em Portugal sobre a participação do cidadão


Como é que a Web 2.0 tem vindo a moldar o (Ciber)Jornalismo?
Considerações em Portugal sobre a participação do cidadão

COUTO, António
Programa Doutoral em Informação e Comunicação em Plataformas Digitais
Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro
Faculdade de Letras da Universidade do Porto | Universidade de Aveiro
antonioocouto@gmail.com

Resumo

Vivemos num período em que a imediatez da informação é cada vez mais importante e numa sociedade em que o comum cidadão gosta de ter voz ativa. A Internet e as suas potencialidades tem vindo a criar plataformas que, no campo do jornalismo, foi necessário expandir o conceito de ciberjornalismo. Continuamos a tê-lo num patamar profissional, no entanto, foram surgindo novas redefinições, nem sempre de discussão linear no campo académico, como é o caso do jornalismo participativo, jornalismo de cidadão e mais recentemente o jornalismo crowdsourcing.
Perceber o estado da arte desta área foi uma das motivações, mas acima de tudo perceber o grau de penetração dos cidadãos no ciberjornalismo em Portugal.


PALAVRAS-CHAVE: Media Social, Web 2.0, Ciberjornalismo, Jornalismo Participativo, Jornalismo de Cidadão


Abstract

We live in a period in which the information immediacy is highly important and in a society in which a common citizen wants to have an active voice. The Internet and its potentialities have been shaping platforms, that in the field of journalism, was necessary to expand the webjournalism concept. It is still used in a professional way, although, have been shaping another definitions, not always well received in the academic field, as participatory journalism, citizen journalism and more recently crowdsourcing journalism.
Understand the state of art in this field was one of the motivations, but above all to comprehend the level of penetration of the citizens in the portuguese webjournalism

KEYWORDS: Social Media, Web 2.0, Webjournalism, Participatory Journalism, Citizen Journalism


Vivemos num período em que a velocidade de obtenção das notícias é extremamente exigente. Os meios de comunicação social querem ser os primeiros a divulga-las e o público quer ser informado seja através de que meio seja.

Neste sentido, os meios tradicionais, jornais, rádios ou televisões, sentiram a necessidade de transporem as barreiras do seu meio “primitivo” para plataformas com potencialidades, a maior parte das vezes, pouco exploradas.
Nos dias de hoje, não podemos refletir sobre jornalismo, sem pensarmos sobre Jornalismo Online. Aliás, Jornalismo Online, Ciberjornalismo ou mesmo Webjornalismo, são tudo expressões utilizadas devido à instituição de produção e disponibilização de conteúdos através da Internet. (BASTOS, 2011)

O jornalismo vive, dede os anos 90, uma crescente crise económica. No entanto, com o boom e queda das empresas (ponto)com, passou-se de um paradigma de revolução digital, onde os novos media viriam substituir os tradicionais, para um paradigma de convergência onde todos os media interagem de forma cada vez mais complexa. (JENKINS, 2009)


Os media tradicionais têm-se vindo a mostrar lentos no que diz respeito às mudanças no comportamento social, as audiências têm necessidade de interagir quer entre si, quer com o produtor da notícia que estão a ler. (MILLS, 2012) Assistimos, então, à disponibilização de diversas plataformas, que têm vindo a formar verdadeiras comunidades online.



Deixou de ser suficiente o consumo de conteúdos apenas ao final do dia via “telejornal”, ou o esperar pelo dia seguinte para ser informado das notícias, de ontem, através dos meios impressos. Nos dias de hoje, o cidadão comum, munido do seu dispositivo móvel, consome notícias a toda a hora, em todo o lado.



Em divagações pelo YouTube encontrou-se um vídeo que reflete sobre o que era espectável em 2007 ser o media landscape, em como a Web Social iria afectar a forma como as notícias são consumidas, que tipo de realidade iria ser criada ficando à disponibilização de cidadãos e jornalistas. E o facto é que cerca de 7 anos depois, aquilo que poderia parecer futurologia, assume-se como a realidade dos dias de hoje.


A proliferação da Internet, das potencialidade das Plataformas Digitas, assim como, as redefinições dos contornos do Online Journalim levam-nos nos dias de hoje a outro tipo de conceitos.



Segundo Zamith (2011) as características da internet, assim como a necessidade crescente do cidadão comum ter voz ativa, devido à relativa lentidão de resposta dos media tradicionais, fazem com que novos tipos de jornalismo façam parte de uma discussão académica mais alargada, devido à dicotomia profissional-amador.

Observamos então três grandes grupos de ciberjornalismo, tendo por base a colaboração entre profissionais e amadores, com fronteiras cada vez menos definidas:
  • Jornalismo Profissional
O ciberjornalismo, tradicional, é entendido como a prática de produção de conteúdos para a Internet por profissionais credenciados, e que têm como principal ocupação o exercício da profissão de jornalista. Logo, Bastos (2011) defende-o como, "jornalismo produzido para publicações na Web por profissionais destacados para trabalhar, preferencialmente em exclusivo, nessas mesmas publicações”.

Já o ciberjornalismo colaborativo ou em rede, é entendido como toda a produção noticiosa que tem a colaboração estreita entre profissionais e amadores. As contribuições dos não profissionais podem  ser como fontes diretas de informação, ou seja, através de comentários deixados nas respetivas plafarmas online dos jornais, permitindo ao jornalista aprofundamento de determinadas matérias.
Silva (2011) e Aroso (2013), assim como muitos outros autores, referem que, para lhe podermos chamar, (ciber)jornalismo esta será a única forma de o cunharmos, visto que, a notícia final terá sempre a intervenção presente e profissional de um jornalista.

Foi necessário, tendo em conta o amadorismo que está envolto o conceito de jornalismo de cidadão, e a falta de consenso no meio académico, distinguir o conceito de jornalismo participativo ou colaborativo do cívico ou amador, porque este último é produzido para a internet por não profissionais, que, claro está, não fazem do jornalismo atividade principal.




Relativamente ao Jornalismo Crowdsourcing, visto permitir uma participação ativa na edição dos conteúdos criados, poderá ser definido como:
Depois de ser lançada uma determinada temática, a ser abordada, por um "editor", as plataformas vão permitindo a inserção e alteração dos conteúdos aos seus utilizadores. Estas contribuições de outros jornalistas e não profissionais podem prender-se com fontes e factos que irão enriquecer determinada estória, mas a "edição final" passará sempre por um crivo de jornalistas profissionais.


Embora as fronteiras entre o Jornalismo de Cidadão, Jornalismo Participativo e Jornalismo Crowdsourcing sejam ténues, Singer (cit in. ZAMITH, 2011) define Jornalismo Cívico como “conteúdo produzido por cidadãos que desempenham um papel de recolha, relato, análise e disseminação de notícias e informação, tipicamente permitido por tecnologias digitais”. Como anteriormente referido, é de salientar que o termo foi cunhado por os conteúdos serem produzidos por pessoas sem formação ou experiência profissional.

No entanto, mitos autores, como o caso de João Canavilhas (cit in. ZAMITH, 2011) contesta o termo preferindo chamar-lhe “participação dos cidadãos”, tal e qual acontecia com as tradicionais cartas ao diretor. Esta refutação deve-se ao facto do amadorismo dos contribuintes, assim como todo o conjunto de características que um profissional de jornalismo deve possuir e seguir, desde: uma carteira de jornalista; seguir um código ético-deontológico, assim como todas as normas que irão permitir chamar àquela estória de notícia; isenção na averiguação dos factos e construção da peça; o princípio do contraditório; habilidade de desmontar uma determinada realidade para que possa ser montada e provida de um contexto que permita ao cidadão comum interpretar.

Em Portugal, como não poderia deixar de ser, jornais, rádios e televisões têm colocado em prática várias iniciativas ligadas ao jornalismo participativo. Não poderemos esquecer a intempérie na Madeira ou mesmo o mau tempo do início do ano (2012) que assolou Portugal de norte a sul. Desconheço, no entanto, até à data possibilidade ligadas ao jornalismo de cidadão, para além de alguns blogs.
Parece-me que relativamente à realidade portuguesa, assim como no campo académico, tem-se construído uma forma de jornalismo muito ligada ao campo profissional. Editores e jornalistas, não têm criado muitos mais espaço nos seus jornais e plataformas do que o “colabore connosco e envie-nos a suas fotos e vídeos relativamente a...”. Assim como, não se tem vindo a apostar em modelos de contribuição para plataformas tradicionais que permitam ao cidadão comum ter uma voz ainda mais ativa.

A leitura que me é permitida fazer é que os meios jornalísticos, provavelmente pela séria crise financeira do sector se tem vindo a fechar em si mesma, não criando ou implementando estruturas que em realidade como a Norte-Americana, Inglesa, Francesa, Alemã ou mesmo Italiana já têm implementado.
O cidadão comum, em Portugal, poderá, no entanto, utilizando plataformas como: o MePorter, ou mesmo o iReport, já para não falar de blogs, Twitter e mesmo Facebook, para se fazer ouvir e intervir no que diz respeito às estórias onde os media tradicionais não chegam, ou chegam tardiamente.

Assim sendo, outros estudos, quer no campo do jornalismo de cidadão, quer no campo do jornalismo participativo serão necessários em Portugal, fundamentados e enriquecidos com entrevistas com jornalistas e editores para, perceber o panorama português e as motivações deste fecho do meio ao cidadão comum, de forma tão deliberada, ao que parece.

Devido à disseminação de plataformas que dão voz ao cidadão comum, que lhes permite influenciar a agenda comentando, produzindo e distribuindo também conteúdos, temos hoje uma democracia bem mais participativa.


Bibliografia



AROSO, I. (2013). As redes sociais como ferramentas de jornalismo participativo nos meios de comunicação regionais: um estudo de casoRetrived from http://www.bocc.ubi.pt/pag/aroso-ines-2013-redes-sociais-ferramenta-jornalismo.pdf


BASTOS, H. (2011). Ciberjornalismo em Portugal: práticas, papéis e ética. Lisboa, Livros Horizonte;


JENKINS, H. (2009). Cultura da Convergência. 2ª Edição. São Paulo: Aleph;

MILLS, J., EGGLESTONE, P., RASHID, O. & Vaataja, H. (2012). MoJo in action: The use of mobiles in conflict, community and cross-platform journalism. Continuum: Journal of Media & Cultural Studies. Retrived from http://dx.doi.org/10.1080/10304312.2012.706457. doi: 26:5, 669-683;

SILVA, L. (2011). Webjornalismo Colaborativo ou Culto ao Amador? Retrived fromhttp://www.bocc.ubi.pt/pag/silva-leticia-webjornalismo-colaborativo-ou-culto-ao-amador.pdf

ZAMITH, F. (2011). A Contextualização no Ciberjornalismo. Retrived from http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/57280/2/zamith000148443




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